terça-feira, abril 28, 2009

deixei de ler, abandonei as páginas, fiquei a meio de livros, fugi. assustei-me e fugi. passei a conseguir unicamente absorver imagens - cores, movimentos, silhuetas. sustentei-me com formas e deixei de falar. da boca sai-me volumes, agora. densidades com tons, complexas. uma cadeira, por exemplo. brotam-me formas. nem sequer ideias, isso seria bom demais. objectos. formo objectos com as minhas cordas vocais, com a minha garganta. engulo ao contrário. temo que um dia saiam-me quadros da boca, já desenhados, ou mesmo esculturas. tenho medo de olhar para eles e ficar cego, de vez, sem esperança. vejo-me ao fundo, rosa. uma massa com pele que só sente, esquecido de reagir, incapaz de dar. implodido.

quinta-feira, abril 23, 2009

On the verge

Qual é o teu nome, música favoríta, cor?

olhar para o céu sem perder a oportunidade de ver chover sonhos

make a wish...

segunda-feira, abril 20, 2009

De repente

ou subitamente. A memória...

"My son, Sebastian and I constructed our days. Each day we would carve each day like a piece of sculpture, leaving behind us a trail of days like a gallery of sculpture until suddenly, last summer."



A beleza que enforca.

De repente. Subitamente.


Construíamos os nossos dias. digeríamos as pessoas.

my son, Sebastian and I. a nossa beleza - fulgurante, permanente.


until... sud...n..ly. o Verão. a memória que enforca. o horror.

"diz-me qualquer coisa profunda"

"parte-me a imaginação em dois"

"eu dou-te uma parte e tu mastigas durante um espaço de tempo considerável e regurgitas"

"eu integro-a outra vez ou vezes sem conta"

"até ter certeza de conseguir ouvir o que tens para me dizer"

domingo, abril 19, 2009

Falta-me a oportunidade de partilhar.

segunda-feira, abril 06, 2009

Chegar tarde do trabalho, dois dedos de conversa, jantar, mais dois dedos de conversa. Passar roupa a ferro, lavar casas-de-banho.

Banda sonora: Lhasa - "Going in".

"Don't you tempt me with perfection
I have other things to do"

domingo, abril 05, 2009

Gostava de ser o sangue dos outros, cair de feridas e infiltrar-me na terra. Espalhar-me entre mil. Finalmente livrar-me da culpa de ser um.

sexta-feira, abril 03, 2009

Significados

Tem-me vindo à cabeça, nos últimos tempos, repetidamente, a expressão "competência para amar". E os "Clã", também, por associação...
Vi o homem estacar, sentar-se, tirar uma agulha da mão e empalidecer. Durante duas horas ficou quieto naquele banco do jardim, a olhar para o infinito. De dez em dez minutos gritava: "Esqueci-me de como se ama!". Parecia que o grito era a resposta explicativa que o infinito lhe devolvia. Logo a seguir fazia um gesto com o braço, calava-se de imediato e parecia entrar outra vez num torpor. Dez minutos passados e novo grito: lancinante, horrível.
Soube, dias depois, que ficou ali durante duas horas. No mês seguinte não se falou de outra coisa, dizia-se que tinha sido vítima de uma doença do sistema nervoso que afectou certas zonas do cérebro. Lembro-me de aguentar dois gritos e ao terceiro fugir do jardim com medo de enlouquecer. Fui dos últimos a abandonar o local e ninguém ouviu o homem a gritar pela última vez.
Quando lá chegaram, horas depois, já estava colado ao chão. A morte tinha sido causada por uma paragem cardíaca, o corpo estava normal excepto dois pormenores: a cara parecia toldada pelo pânico e no braço direito doze furos com sangue seco recente apagavam a tatuagem do perfil de uma mulher.