Quantas mortes eram necessárias para um apocalipse? Que pergunta estúpida! Nunca precisara de conceitos para reagir às situações. Sempre tivera a razão e a emoção a andar a par e passo, água quente e fria que se misturavam num caudal morno, constante e responsável. Por isso estava viva e lúcida, por isso estava ali, sozinha, no cimo da falésia a ver o sol nascer.
Não vinha à procura de esperança, decidira-se apenas que necessitava de viver algo extraordinariamente belo. Estava cansada da angústia e dos choros repetidos que a tristeza e o horror traziam. Olhou para o horizonte, gradualmente o céu foi passando de preto para azul-escuro, roxo, vermelho, laranja, até que a primeira franja de sol despontou. A cara dela ficou iluminada e uma lágrima desprendeu-se cuidadosamente do olho esquerdo e escorregou bochecha abaixo. Fixou-se prolongadamente no mar enquanto mais e mais lágrimas caíram num choro contente e aliviado.
Passado algum tempo pôs-se de pé. Atrás dela a vila estendia-se a alguns quilómetros de distância. De longe, o perfil dos edifícios não anunciava a ausência de pessoas nem de sentidos, nada fazia querer que a civilização tinha deixado de existir. Isso pouco lhe interessava, em passos largos dirigiu-se de volta para sua casa, para dias e semanas de trabalho, cansaço e incertezas. A falésia e o sol viram-na ficar pequenina e desaparecer na paisagem. Ela, contudo, tinha guardado aquele lugar na sua mente, certificara-se que o amanhecer não estava estragado e iria voltar ali repetidamente.
segunda-feira, outubro 29, 2007
segunda-feira, outubro 22, 2007
quinta-feira, outubro 11, 2007
Alcançar a imortalidade na Cidade Universitária
As conjunturas energéticas dos espaços são um assunto a discutir noutro post, mas as empatias que cada um desenvolve com cada local são pessoais, intransmissíveis e verdadeiras. Eu, cada vez que saio na estação do Metro da Cidade Universitária sou tomado por uma fúria de viver racionalista, positivista, humanista e outros "istas" da mesma estirpe... Não consigo evitar nem quero. Gosto do tom claro da estação, gosto do abertura da gare e do hall por cima, gosto do corredor que dá acesso à Aula Magna sempre percorrido por uma corrente de ar que me grita: "Sobe as escadas e vive!". Mas tudo isto seria insignificante se não fossem as duas citações que me acompanham sempre que desço ou saio daquele pedaço de terra:
"Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo."
Sócrates (470 A.C. - 399 A.C.)
"Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!"
Cesário Verde (1855 - 1886)
Fixo-me agora na segunda frase e na notícia que veio no Público de terça-feira relacionado com o Nobel da Medicina intitulado "Um dia vamos conseguir viver até aos 120 anos?". Nesta notícia fala-se de potenciais novas técnicas terapêuticas que poderão permitir-nos esticar a vida mais um pouco. Penso imediatamente no conceito de imortalidade, ideia que me seduz cada vez menos. Mas ao mesmo tempo revejo-me mentalmente a caminhar lado a lado com cada letra da frase de Cesário: "E e t e r n a m e n t e b u s c a s s e e c o n s e g u i s s e a p e r f e i ç ã o d a s c o i s a s!". É um objectivo de vida do tamanho das estrelas em que tenho mais gosto pelo "buscasse" do que pelo "conseguisse", mas é o "eternamente" que me dá o ardor na garganta. A ideia da busca pessoal e eterna pelo "melhor", no contexto universal de Sócrates, põe-me um sorriso na cara qualquer que seja a hora em que atravesso aquela estação.
"Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo."
Sócrates (470 A.C. - 399 A.C.)
"Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!"
Cesário Verde (1855 - 1886)
Fixo-me agora na segunda frase e na notícia que veio no Público de terça-feira relacionado com o Nobel da Medicina intitulado "Um dia vamos conseguir viver até aos 120 anos?". Nesta notícia fala-se de potenciais novas técnicas terapêuticas que poderão permitir-nos esticar a vida mais um pouco. Penso imediatamente no conceito de imortalidade, ideia que me seduz cada vez menos. Mas ao mesmo tempo revejo-me mentalmente a caminhar lado a lado com cada letra da frase de Cesário: "E e t e r n a m e n t e b u s c a s s e e c o n s e g u i s s e a p e r f e i ç ã o d a s c o i s a s!". É um objectivo de vida do tamanho das estrelas em que tenho mais gosto pelo "buscasse" do que pelo "conseguisse", mas é o "eternamente" que me dá o ardor na garganta. A ideia da busca pessoal e eterna pelo "melhor", no contexto universal de Sócrates, põe-me um sorriso na cara qualquer que seja a hora em que atravesso aquela estação.
terça-feira, outubro 09, 2007
segunda-feira, outubro 08, 2007
O Capacete Dourado
Echo And The Bunnymen - Ocean Rain
All at sea again
And now my hurricanes have brought down this ocean rain
To bathe me again
My ship's a sail
Can you hear its tender frame
Screaming from beneath the waves
Screaming from beneath the waves
All hands on deck at dawn
Sailing to sadder shores
Your port in my heavy storms
Harbours the blackest thoughts
As margens da fotografia fazem fronteira com a memória. Nela, afundas-te e expandes-te. Ouves os sons que no papel não vês, ouves a memória das vozes da juventude. Voltas a sentir o cheiro dos dias e das noites em que sonhavas com outro amanhecer...
O filme O Capacete Dourado está no cinema. Uma versão dos Ocean Rain dos Echo and the Bunnymen pode ser ouvida aqui.
All at sea again
And now my hurricanes have brought down this ocean rain
To bathe me again
My ship's a sail
Can you hear its tender frame
Screaming from beneath the waves
Screaming from beneath the waves
All hands on deck at dawn
Sailing to sadder shores
Your port in my heavy storms
Harbours the blackest thoughts
As margens da fotografia fazem fronteira com a memória. Nela, afundas-te e expandes-te. Ouves os sons que no papel não vês, ouves a memória das vozes da juventude. Voltas a sentir o cheiro dos dias e das noites em que sonhavas com outro amanhecer...
O filme O Capacete Dourado está no cinema. Uma versão dos Ocean Rain dos Echo and the Bunnymen pode ser ouvida aqui.
sexta-feira, outubro 05, 2007
Sobre o frio
- Tens frio?
Disse-lhe que sim, que tinha. Que o frio era uma constante no meu calendário. Iniciava-se por meados de Outubro e só abrandava nos últimos dias de Abril. Acrescentei ainda que a idade avançava e o número de dias sem frio era cada vez menor. Do que se concluia que no ano em que passasse o Verão com frio tinha oficialmente chegado à velhice...
- Tudo isso!? – respondeu-me com um ar admirado. - E o Aquecimento Global, não te anima?
- Zero. Antes pelo contrário, cada vez que ouço falar no dito percorre-me um arrepio na espinha!
Disse-lhe que sim, que tinha. Que o frio era uma constante no meu calendário. Iniciava-se por meados de Outubro e só abrandava nos últimos dias de Abril. Acrescentei ainda que a idade avançava e o número de dias sem frio era cada vez menor. Do que se concluia que no ano em que passasse o Verão com frio tinha oficialmente chegado à velhice...
- Tudo isso!? – respondeu-me com um ar admirado. - E o Aquecimento Global, não te anima?
- Zero. Antes pelo contrário, cada vez que ouço falar no dito percorre-me um arrepio na espinha!
quinta-feira, outubro 04, 2007
Sputnika-me!
A Era Espacial começou há 50 anos! Hoje sonhamos com Marte, mas naquela altura um satélite no ar a fazer beep beep para a Terra foi um salto gigante para a Humanidade. A ex URSS deu o pontapé de saída com o Sputnik. Menos de um mês depois, a 3 de Novembro de 1957 o Sputnik 2 sai disparado, agora com um animal. Pobre Laika...
Post patrocinado por Astronomy Picture of the Day!
Etiquetas:
Astronomy Picture of the Day,
Espaço,
Fascínios