quarta-feira, dezembro 30, 2009

À espera de 2010

Nem estrelas ou signos, roupa nova, passas ou saltos de uma cadeira para o chão. Sirvo-me de gestos mais comuns para fechar a porta a 2009 e receber de braços abertos 2010. Uma frase inspirada numa música, a organização do calendário da próxima semana, arrumar o quarto, libertar-me de excessos mentais, não ruminar em assuntos mortos. Abrir espaço na prateleira do armário da casa de banho e encher um saco com um frasco de perfume vazio, cremes fora de validade, um plástico que já não guarda lâminas de barbear, uma escova de dentes usada que não chegou a ter dono.

sábado, dezembro 26, 2009

Os dias que não existem

Hoje arrancam os dias que não existem. Esquecidos antes de nascerem. Quando o ano já foi ditado, os acontecimentos marcados, os livros fechados. Seis dias em que nada de novo pode surgir, em que se expira as últimas moléculas do calendário, numa espera sôfrega para ouvir as doze badaladas do novo ano que está por chegar. O instante em que ficamos a olhar para o relógio das estações, quando o ponteiro dos segundos já terminou a sua volta, mas o dos minutos teima em marcar o novo começo. E nós, por momentos, duvidamos da continuidade do tempo.

sábado, dezembro 12, 2009

Para onde foram todas as paisagens emocionais?

Há esta falta de curiosidade, de wonder, que me assusta. A perda de interesse pelas palavras. Havia o tempo das emotional landscapes que me percorriam, mesmo quando faltava algo de tangente para se agarrarem. Existiam por si, para mim, sem a dúvida, sem a quebra. Um reboliço de vida que me preenchia mesmo que as testemunhas fossem raras. Talvez tenha abafado tudo nas sucessivas oportunidades que tive para amar. E com isso perdi o gosto.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Strange Days

Os dias estranhos nunca nos abandonaram. Foram escritos há mais de 40 anos e permaneceram, entre manhãs escuras, tardes soalheiras e noites quentes. Os dias estranhos entregam-se em fragrâncias puras e perfumam-nos os medos e as angústias. Cantam alto ritmos que ninguém nos ensinou. Auguram o negrume do final das épocas. Incendeiam o nosso inconsciente de detalhes, mostram-nos horrores no horizonte. Atingem-nos com o aviso de que o futuro é irreversível.