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quinta-feira, novembro 05, 2009

O meu primeiro galão

O meu primeiro galão tem alguns meses. Entrei num café para tomar o pequeno-almoço. Estava febril, a garganta latejava, queria algo quente. Saíram-me as palavras pela boca, descontroladas, em jeito de menino que adivinha ir viver uma descoberta. "Era um galão, se faz favor!"

Mãos rápidas, habituadas à tarefa, puseram a bica a sair enquanto aqueciam o leite. Depois, o gesto formidável: num só movimento o café chocou com o leite e durante um momento existiram duas fases dentro do copo.

(lembro-me de reconhecer o fenómeno, de o ter identificado na memória. mas desta vez eu era o culpado. testemunhei o branco do leite a ficar tingido. alterado. morto. e um segundo depois, quando tudo parecia estar perdido, a renovação)

O galão ficou pronto. Esvaziei os dois pacotes de açúcar, dei utilização à colher e levei a bebida à boca. O gosto não era inteiramente novo mas soube-me maravilhosamente...

Senti-me suficientemente velho para apreciar o galão sem culpas. Reconheço na situação a novidade ingénua da descoberta, feita por alguém que se aprisionou a um mundo falso, manufacturado (neste caso sem galões) e que teve a oportunidade de se libertar.

Agora, que o frio chegou e voltei a olhar para esta fotografia, apetece-me repetir a experiência.

domingo, outubro 18, 2009

Era uma Time Machine que eu queria. Daquelas em formato pod, brancas, bem kubrickianas que funcionasse à base de um botão vermelho e um pensamento-desejo. Saltava para uma praia deserta dos 50's com o mesmo gosto que tenho andado a ouvir The Drums, The Raveonettes ou Washed Out. A culpa é deles, das suas sonoridades laid back, das minhas obsessõezinhas e deste sol. Este sol!!! O que é que se faz com este sol? Só me vem à mente pranchas de surf, areia e o mar.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Gosto sempre de caminhar pelos corredores da fnac com um saco de plástico na mão cheio de fruta.

É como entrar numa loja de roupa a comer um gelado.

clash!

segunda-feira, agosto 10, 2009

Na estação do Metro do Cais-do-Sodré, é o coelho que me põe a sorrir. O tamanho, o relógio, o “o” que falta na frase “estou atrasad(o)”. Gostava que ele olhasse para mim, levantasse a mão num aceno e desatasse a correr, libertando-se dos azulejos.

Um coelho de contornos azuis, gigante, em velocidade pelos túneis do Metro de Lisboa.

Um coelho, de perna traçada, sentado num banco da estação do Saldanha, olha para o relógio, suspira, desvia os olhos para a linha e pondera: “Espero pelo metro ou arranco corredor abaixo em direcção ao Marquês?”

quarta-feira, agosto 05, 2009

Abortei-me

Dancei demasiado tempo contigo. Tropecei sempre nos mesmos passos sem querer compreendê-los. Esqueci-me de como se aprendia até que te perdi. Perdi-te. Fartaste-te, gritaste, berraste tanto. Não pelo desespero ou pela cura, mas para que os teus pulmões pudessem voltar a respirar.

Perdi-te e sufoco com a perda. Sufoco pela perda ser merecida, ser passiva, ser cuspo, ser saliva. Transparente, densa, carregada como um forno, opressiva, imobilizadora.

Dancei demasiado tempo contigo. Não aprendi. Perdi-te e recomeçar é tão impensável como ficar sem ti. Recomeçar é tão doloroso como o grito que te saiu da boca. Recomeçar é perder a perda e abandonar o que me resta de ti.

Dancei durante tanto tempo contigo. Gastei todos os gestos. Gastei todos os erros. Tornei-me inviável com a tua ausência. Abortei-me.

segunda-feira, julho 27, 2009

Se como Wilde diz, toda a gente que desaparece acaba por ser vista em São Francisco, então fica aqui a promessa de um dia evaporar-me.

terça-feira, junho 30, 2009

Vou raspar-me até ficar liso, sem atrito, macio. Vou raspar-me até o vento deixar de me sentir. Um monólito que não interfere. Uno, pele, nulo. Vou confundir-me com ar. Um ser-conforto. Invisível.

sexta-feira, maio 15, 2009

Dou graças ao mundo esquizofrénico das 3h30 da manhã, com o cheiro do tabaco da discoteca nos ombros nús e a música do Bon Iver de um myspace desconhecido que me abre o apetite para o imaginário de outro myspace.

Lambo o mundo tecnológico, que me bate à porta entre a realidade, a imaginação e o desejo.

Dou graças ao desejo.

terça-feira, abril 28, 2009

deixei de ler, abandonei as páginas, fiquei a meio de livros, fugi. assustei-me e fugi. passei a conseguir unicamente absorver imagens - cores, movimentos, silhuetas. sustentei-me com formas e deixei de falar. da boca sai-me volumes, agora. densidades com tons, complexas. uma cadeira, por exemplo. brotam-me formas. nem sequer ideias, isso seria bom demais. objectos. formo objectos com as minhas cordas vocais, com a minha garganta. engulo ao contrário. temo que um dia saiam-me quadros da boca, já desenhados, ou mesmo esculturas. tenho medo de olhar para eles e ficar cego, de vez, sem esperança. vejo-me ao fundo, rosa. uma massa com pele que só sente, esquecido de reagir, incapaz de dar. implodido.

segunda-feira, abril 20, 2009

"diz-me qualquer coisa profunda"

"parte-me a imaginação em dois"

"eu dou-te uma parte e tu mastigas durante um espaço de tempo considerável e regurgitas"

"eu integro-a outra vez ou vezes sem conta"

"até ter certeza de conseguir ouvir o que tens para me dizer"

domingo, abril 05, 2009

Gostava de ser o sangue dos outros, cair de feridas e infiltrar-me na terra. Espalhar-me entre mil. Finalmente livrar-me da culpa de ser um.

sábado, março 21, 2009

Back!

São 1h15. Saio de casa e em 20 minutos estou no Incógnito (há trânsito...). Viver em Lisboa tem tanta pinta!

domingo, janeiro 04, 2009

Tornar a vida mais simples

Vou deitar-me calçado e com a roupa que tenho para ser mais fácil acordar.

sábado, janeiro 03, 2009

Falta de conteúdo

Apetecia-me um café sala de estar. Apetecia-me falar com quem lá entrasse e ser puxado para continuar a conversa rua fora. Apetecia-me ouvir coisas que nunca tinha pensado. Apetecia-me olhar para olhos com a estranheza com que olho para estrelas. Apetecia-me ter algo para dizer.



* Prometo não entrar numa temporada naive. Foi só desta vez.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Gostava de ser o vampiro Bill e dizer "Sookie".

quarta-feira, outubro 29, 2008

505

E agora fico aqui, a ouvir a voz do vocalista dos Arctic Monkeys. E deixo as lágrimas abandonarem-me a cara repetidamente até criarem sulcos no chão.

"But I crumble completely when you cry, It seems like once again you've had to greet me with goodbye, I'm always just about to go and spoil a surprise, Take my hands off of your eyes too soon"

E sinto um turbilhão inexplicável. Um misto de dor e prazer e angústia. E não percebo, mas tenho a certeza da dor nos meus lábios salgados. E volto a carregar "play" para tentar desvendar algo novo dentro de mim.

"I'm going back to 505, If it's a 7 hour flight tour a 45 minute drive, In my imagination you're waiting lying on your side, With your hands between your thighs,"

* Este é para ti, J.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Whisper

"I'll be your mirror
Reflect what you are,
in case you dont know

I'll be the wind,
the rain and the sunset
The light on your door
to show that you're home

When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
cause I see you"*

Cantem baixinho aos ouvidos dos vossos amantes. Estamos em 1966, e o desalento já é velho. Sussurrem aos ouvidos dos vossos amantes e finjam que esta voz ainda não está morta e vos é emprestada durante uns momentos. Cantem, numa praia desconhecida, ao som de raios de sol a nascer, de ondas a descolar, de rochas a zumbir.

O sonho acordou e recusa-se a adormecer...

* "I'll Be Your Mirror" - The Velvet Underground and Nico

segunda-feira, setembro 15, 2008

"When the kids had killed the man I had to break up the band"


A oferta veio por mail (thanks sb). Achei que o Ziggy era um bom ponto de partida para arrancar com uma nova semana. Aqui no 5 Years temos exigências: pede-se uma loucura por dia, não se aceitam clichés, a semana não pode terminar sem se tornar especial... Ponham a imaginação a trabalhar.

segunda-feira, setembro 01, 2008

sábado, agosto 23, 2008

Eu quero um homem-lagosta

"People want a street angel. They want a saint but with a cowboy mouth. Somebody to get off on when they can't get off on themselves. I think that's what Mick Jagger is trying to do...what Bob Dylan seemed to be for a while. A sort of God in our image...ya know?"

in: Cowboy Mouth - escrito por Sam Shepard e Patti Smith