Dancei demasiado tempo contigo. Tropecei sempre nos mesmos passos sem querer compreendê-los. Esqueci-me de como se aprendia até que te perdi. Perdi-te. Fartaste-te, gritaste, berraste tanto. Não pelo desespero ou pela cura, mas para que os teus pulmões pudessem voltar a respirar.
Perdi-te e sufoco com a perda. Sufoco pela perda ser merecida, ser passiva, ser cuspo, ser saliva. Transparente, densa, carregada como um forno, opressiva, imobilizadora.
Dancei demasiado tempo contigo. Não aprendi. Perdi-te e recomeçar é tão impensável como ficar sem ti. Recomeçar é tão doloroso como o grito que te saiu da boca. Recomeçar é perder a perda e abandonar o que me resta de ti.
Dancei durante tanto tempo contigo. Gastei todos os gestos. Gastei todos os erros. Tornei-me inviável com a tua ausência. Abortei-me.
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