Mostrar mensagens com a etiqueta Humanidade. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Humanidade. Mostrar todas as mensagens

domingo, julho 13, 2008

Lido hoje no comboio, a caminho de Lisboa

"... Há sempre num recanto do espírito a esperança de uma destruição total, único remédio para o tédio que consome o homem moderno."

in: "Mountolive", terceiro volume do "Quarteto de Alexandria", Lawrence Durrrell, pág. 71, Ulisseia.

sexta-feira, junho 27, 2008

A fenda

Fez barulho. Abriu-se um espaço profundo e escuro, e caíram pessoas fenda abaixo. O propósito sólido da Terra fugira, já não existia a segurança dos pés assentes no chão. Ficara o medo de andar, um acto quase tão inadaptável como o de voar. Por isso as pessoas começaram a olhar para o céu de outra forma. Inquisidoras, como se o espaço fosse o prolongamento da Terra, como se tivesse o mesmo grau de insegurança. Lançaram-se em jactos, em propulsores, enviaram-se para fora. Romperam a atmosfera e "aí vou eu!". Olharam para trás, e viram uma bola redonda e pequenina, tão estúpida como outras bolas redondas e pequeninas que andavam por aí... E surgiu a ideia: o mundo é universal.

terça-feira, novembro 20, 2007

Ainda sobre a SIDA...




... é esta a abordagem com que me identifico.

quinta-feira, junho 21, 2007

O prolongamento do universo

Nunca perdia o amanhecer nem o anoitecer. Davam-lhe movimento, ritmo, envelheciam-na. Os dois momentos diários tinham a particularidade de serem sempre diferentes, com tons, cores, matizes, que se renovavam em quadros únicos sucessivos. Ela perdia-se naquela lição de astronomia repetida, em que o sol fazia de astro professor... Não experimentava nenhuma epifania, somente a beleza brutal do exterior que condensava a razão e a emoção em lágrimas. Dava graças ter nascido no século XX, a compreensão científica do que se passava unificava-a com o momento, enquadrava-a. Fazia parte de uma bola rochosa com quilómetros de diâmetro e era na mistura entre o dia e a noite que a sua existência se prolongava e ficava abarcada pelo universo...

quarta-feira, abril 25, 2007

O mistério - Segunda parte

Na procura interna de respostas e da imaginação descobre-se muitas vezes as "janelas abertas" ou mais propriamente, abrimos as janelas. Foi nesse estado de deixar o ar sair e entrar que me veio parar às mãos o livro do Amos Oz, chamado "Contra o fanatismo". Editado pelo Público e pela Asa, este pequeno livro vinha de borla numa edição deste jornal da semana passada (acho que foi terça-feira, mas não tenho a certeza).
O livro tem três textos independentes e ainda só tive tempo de ler o primeiro. No entanto a visão do autor acerca do fanatismo humano, e por trás, o seu olhar sobre o ser humano é de um interesse maior. Já para o final deste texto intitulado "Da natureza do fanatismo", Amos Oz descreve o ser humano como uma península, com uma parte virada para o mar, para a introspecção e para o eu, e outra ligada à terra, aos outros, aos laços humanos, às pessoas. E que o respeito mútuo por esta condição peninsular era essencial para a manutenção de um equilíbrio. Que era no respeito pelas ideias do outro e na tentativa de consensos e de autocrítica (talvez através do humor) que se mantinha o fanatismo distante de cada um de nós.
Amos Oz também refere de uma forma muito directa o que está na génese do fanatismo:

"Digo que a semente do fanatismo brota ao adoptar-se uma atitude de superioridade moral que impeça a obtenção de consensos." - pp. 17

No nosso feriado mais significativo, onde se comemora a liberdade como um bem maior, no meio de um mundo onde os consensos parecem ser cada vez mais complicados, manter o espírito aberto, lúcido, interrogativo, parece ser urgente. Nessa visão peninsular do eu, procuramos respostas no mar para responder aos problemas da terra e achamos respostas em terra para os problemas do mar. Sempre, com o pensamento e a comunicação a correr num estado livre.

O mistério - Primeira parte

O que falta descobrir em cada um de nós? Lembrei-me desta pergunta quando vi esta fotografia no site do Público. Estava legendada assim:

"Pegadas ao contrário Steve Torgersen, perito de minas norueguês, olha deslumbrado para os fósseis de pegadas de uma criatura pré-histórica descobertos no tecto de uma mina de carvão na ilha de Spitsbergen, no Árctico. Foto: Francois Lenoir/Reuters"

Também eu teria ficado "deslumbrado" se estivesse no lugar de Steve Torgersen. Temos a tendência para nos esquecer que por trás da nossa História, existe outra muito maior feita por forças elementares que condiciona toda a nossa estadia cá. De vez em quando, pequenos relatos dessa História vêm ao de cima. O que é preciso é ter imaginação para os encontrar. O benefício, para além da óbvia conquista de mais uma peça do enorme puzzle que está por ser feito, é ficarmos mais pequeninos. Ou seja, esse ponto ilusoriamente físico que é o céu distancia-se. E todo o novo espaço que aparece, presta-se a ser penetrado pela nossa imaginação, sonhos, ideias. Obriga-nos a pensar.