quinta-feira, junho 21, 2007

O prolongamento do universo

Nunca perdia o amanhecer nem o anoitecer. Davam-lhe movimento, ritmo, envelheciam-na. Os dois momentos diários tinham a particularidade de serem sempre diferentes, com tons, cores, matizes, que se renovavam em quadros únicos sucessivos. Ela perdia-se naquela lição de astronomia repetida, em que o sol fazia de astro professor... Não experimentava nenhuma epifania, somente a beleza brutal do exterior que condensava a razão e a emoção em lágrimas. Dava graças ter nascido no século XX, a compreensão científica do que se passava unificava-a com o momento, enquadrava-a. Fazia parte de uma bola rochosa com quilómetros de diâmetro e era na mistura entre o dia e a noite que a sua existência se prolongava e ficava abarcada pelo universo...

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