Sinto um fervor renovado vindo dos dias, das refeições. Vindo de tudo o que me alimenta. Um foco de compulsão e força cardíaca que me acelera. Um desejo de expulsão, de compromisso. Um desejo de alvo. É um fervor que termina em cada perda diária, uma perda que se sobrepõe inexoravelmente quando toda a energia se esgota. São forças simétricas que me inutilizam. Arrebatam-me com o mesmo grau de perplexidade. Perco o movimento com ambas. A primeira imobiliza-me ao puxar-me em todas as direcções. A segunda deixa-me retido, sob a minha própria gravidade. As duas forças começam nos músculos e terminam no cérebro ou o inverso, não é importante. Em quase 30 anos de vida continuo sem saber lidar com elas.
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domingo, abril 08, 2012
quinta-feira, novembro 10, 2011
Desmembrado
Sinto-me desmembrado. Um pedaço em cada lado, cada um a chamar pelo outro por todos saberem que dói sempre estar noutro sítio.
sábado, outubro 29, 2011
Sobre a escrita
É tão isto mas é sempre ao lado.
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domingo, outubro 23, 2011
Days go by
Mordo o maxilar. Não sei fazer melhor. Desgasto-o, inconsciente. Macero a junção dos ossos em sonhos, longínquo. Ganho um problema. Já disse que não sei fazer melhor. Tão pouco sei curar-me. Não quero. É como levantar o volume de uma canção para antecipar a surdez, para activar a dor. É uma aproximação. A música preenche o cérebro, os sentidos estalam e é só ouvir. Ou submeto-me a um ecrã e aí é só ver. Até os olhos enegrecerem e o sono apoderar-se. Então volto a ruminar. Até ao dia seguinte.
terça-feira, janeiro 19, 2010
Hiroshima meu amor

O turista pode sempre esquecer...
* Hiroshima mon amour
quarta-feira, dezembro 30, 2009
À espera de 2010
Nem estrelas ou signos, roupa nova, passas ou saltos de uma cadeira para o chão. Sirvo-me de gestos mais comuns para fechar a porta a 2009 e receber de braços abertos 2010. Uma frase inspirada numa música, a organização do calendário da próxima semana, arrumar o quarto, libertar-me de excessos mentais, não ruminar em assuntos mortos. Abrir espaço na prateleira do armário da casa de banho e encher um saco com um frasco de perfume vazio, cremes fora de validade, um plástico que já não guarda lâminas de barbear, uma escova de dentes usada que não chegou a ter dono.
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sábado, dezembro 26, 2009
Os dias que não existem
Hoje arrancam os dias que não existem. Esquecidos antes de nascerem. Quando o ano já foi ditado, os acontecimentos marcados, os livros fechados. Seis dias em que nada de novo pode surgir, em que se expira as últimas moléculas do calendário, numa espera sôfrega para ouvir as doze badaladas do novo ano que está por chegar. O instante em que ficamos a olhar para o relógio das estações, quando o ponteiro dos segundos já terminou a sua volta, mas o dos minutos teima em marcar o novo começo. E nós, por momentos, duvidamos da continuidade do tempo.
sábado, dezembro 12, 2009
Para onde foram todas as paisagens emocionais?
Há esta falta de curiosidade, de wonder, que me assusta. A perda de interesse pelas palavras. Havia o tempo das emotional landscapes que me percorriam, mesmo quando faltava algo de tangente para se agarrarem. Existiam por si, para mim, sem a dúvida, sem a quebra. Um reboliço de vida que me preenchia mesmo que as testemunhas fossem raras. Talvez tenha abafado tudo nas sucessivas oportunidades que tive para amar. E com isso perdi o gosto.
quinta-feira, dezembro 03, 2009
Strange Days
Os dias estranhos nunca nos abandonaram. Foram escritos há mais de 40 anos e permaneceram, entre manhãs escuras, tardes soalheiras e noites quentes. Os dias estranhos entregam-se em fragrâncias puras e perfumam-nos os medos e as angústias. Cantam alto ritmos que ninguém nos ensinou. Auguram o negrume do final das épocas. Incendeiam o nosso inconsciente de detalhes, mostram-nos horrores no horizonte. Atingem-nos com o aviso de que o futuro é irreversível.
domingo, novembro 29, 2009
"I can give it all on the first date I don't have to exist outside this place."
Basta desfazer-me de um pouco mais de humanidade e a pureza dos The XX deixa de me incomodar.
sexta-feira, novembro 13, 2009
E se eu tiver medo das alturas? E se eu não conseguir? E o que é que consigo se conseguir? E abraçar a tristeza? Mascá-la resolutamente. Engolir os maus presságios, viver de opressões. Deixar de sair de casa. "I love the valley." Não tento ser tudo, nem tenho gosto em ser nada. E o inverso. E a vontade. E quase morro sem tentar começar a ser.
O melhor berro da pop na última década
"Je t’aime the valley
Je t’aime the valley OH!!!
I am an orphan de la valley
And I won’t rest until I forget about it
I won’t rest until I don’t care
LA LA LA LA LA LA LA"
Não é "oh!!!" é AAAARAHHHHHHH!!!!!!!!!!. Expludam-me contra uma parede, por favor.
terça-feira, novembro 10, 2009
Vai ser sempre demasiado tarde para a infância
É na frase que abre o livro de Doris Lessing no seu "O Sonho mais Doce" que tudo começa e acaba. "E partem pessoas que foram filhos afectuosos." Pressente-se o horror na universalidade e melancolia destas palavras, num livro que, se fala do passar das décadas da segunda metade do século XX, é também uma análise lúcida do que é a família e do que são as relações familiares.
Voltei hoje a estas palavras. Aos "filhos afectuosos" que são uma oportunidade para cada família, um começo e fim de amor antes de serem mais nada. Que, invariavelmente, se transformarão em adultos. Vai ser sempre demasiado tarde para a infância.
Voltei hoje a estas palavras. Aos "filhos afectuosos" que são uma oportunidade para cada família, um começo e fim de amor antes de serem mais nada. Que, invariavelmente, se transformarão em adultos. Vai ser sempre demasiado tarde para a infância.
quinta-feira, novembro 05, 2009
A sétima saudade
Há sete formas de sentir saudade e a última é só minha. Inventei-a agora. Sinto a mais cristalina das saudades passado a ausência. É aí que ela transborda do meu inconsciente, inunda-me o cérebro e liberta-se pelos olhos. É quando volto a ver uma pessoa de quem eu gosto muito, passado meses ou anos de afastamento. Volto a olhar para os seus olhos e abate-se em mim a realidade da perda. Dos dias empobrecidos que se passaram sem ter tido a sua companhia, os dias em que a realidade me subtraiu a sua dimensão.
A sétima palavra mais difícil de se traduzir no mundo, disseram eles, é a saudade. Um número carregado. Hoje sinto outro tipo de saudade, mais difusa, menos preenchida, impalpável e, no entanto, universal. Saudade de viver. Cai na sexta posição.
A sétima palavra mais difícil de se traduzir no mundo, disseram eles, é a saudade. Um número carregado. Hoje sinto outro tipo de saudade, mais difusa, menos preenchida, impalpável e, no entanto, universal. Saudade de viver. Cai na sexta posição.
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quinta-feira, outubro 29, 2009
Fartei-me dos piscares de olho, das cumplicidades, das partilhas de pensamentos brilhantes. Não tenho nada de novo para dizer, não trago nenhuma inovação na forma de mastigar referências. "Chiclete mastiga, chiclete deita fora." Não era isso que os Taxi diziam? Acertaram.
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quarta-feira, outubro 28, 2009
Não é na sala vermelha do Lynch que eu quero ficar. Paro antes no salão onde Julee Cruise costuma cantar o seu "The Nightingale" e troco a música. "Oh I buried you today" arranca um duo qualquer. Sento-me a ouvir a melodia rápida e triste de um amor morto, na companhia de uma bebida e de outros espectadores com olhos vidrados de quem tem o coração ainda mais solitário. "I know a heart is hard to please when love fades" continuam as duas vozes, sem ligar a uma luta, a um amor escondido, a uma bela rapariga cheia de mistérios que foi morta. Consigo evitar que a minha atenção se disperse na mesa que tomba, na faca que sai do bolso de alguém, abstenho-me em ler os sinais de todo o horror que está subjacente à cena e sigo atento os lábios da cantora e do cantor compenetrados a contarem a sua história. "But my heart was on fire, but now I cry" terminam as vozes antes do final da música. Eu acabo a bebida, levanto-me e saio porta fora para um cruzamento escuro, deserto, onde o vento sopra e os semáforos abanam.
segunda-feira, outubro 26, 2009
A vida vai tornando-se irrevogável. Com traços, riscos precisos, balas. A realidade sucede-se sempre com uma capacidade espantosa de reinventar o que é inviável. Quando olhamos para as nossas duas mãos, uma está a sangrar as perdas e a outra a agarrar-se aos ganhos. Nunca sabemos muito bem como é que chegamos ao final do dia sem nos termos despenhado. Principalmente quando se sabe identificar os motivos de cada ferida. Vamos correndo e arrancam-nos pedaços de carne ao mesmo tempo que colocam outros. Parece que a vida já não se reconhece na generosidade de oferecer-nos nada sem ser como resposta à culpa de nos ter tirado forças. Vivemos em perda e, pior, esquecemo-nos de que um dia a morte tornará tudo definitivamente inviável.
sexta-feira, outubro 23, 2009
De onde é que veio a matéria? Essa é a única questão que vale a pena pôr à Igreja. Bem mais interessante do ponto de vista filosófico do que um simples registo anti-bíblico... Mas isso sou eu. Somos matéria, tudo o que há em nós está constantemente a ser reciclado e substituído ao longo da vida. Desse ponto de vista somos a cópia de nós próprios, continuamente, em velocidades diferentes consoante a molécula em que nos focamos. Se houvesse uma máquina capaz de reproduzir a nossa estrutura molecular até ao mais ínfimo pormenor, de um ponto de vista puramente físico seria, à partida, capaz de criar um duplo. Se eu visse um duplo meu acho que o abraçava, espero que se ele me visse, fizesse o mesmo.
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