quarta-feira, outubro 28, 2009
Não é na sala vermelha do Lynch que eu quero ficar. Paro antes no salão onde Julee Cruise costuma cantar o seu "The Nightingale" e troco a música. "Oh I buried you today" arranca um duo qualquer. Sento-me a ouvir a melodia rápida e triste de um amor morto, na companhia de uma bebida e de outros espectadores com olhos vidrados de quem tem o coração ainda mais solitário. "I know a heart is hard to please when love fades" continuam as duas vozes, sem ligar a uma luta, a um amor escondido, a uma bela rapariga cheia de mistérios que foi morta. Consigo evitar que a minha atenção se disperse na mesa que tomba, na faca que sai do bolso de alguém, abstenho-me em ler os sinais de todo o horror que está subjacente à cena e sigo atento os lábios da cantora e do cantor compenetrados a contarem a sua história. "But my heart was on fire, but now I cry" terminam as vozes antes do final da música. Eu acabo a bebida, levanto-me e saio porta fora para um cruzamento escuro, deserto, onde o vento sopra e os semáforos abanam.
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