quarta-feira, abril 25, 2007

O mistério - Segunda parte

Na procura interna de respostas e da imaginação descobre-se muitas vezes as "janelas abertas" ou mais propriamente, abrimos as janelas. Foi nesse estado de deixar o ar sair e entrar que me veio parar às mãos o livro do Amos Oz, chamado "Contra o fanatismo". Editado pelo Público e pela Asa, este pequeno livro vinha de borla numa edição deste jornal da semana passada (acho que foi terça-feira, mas não tenho a certeza).
O livro tem três textos independentes e ainda só tive tempo de ler o primeiro. No entanto a visão do autor acerca do fanatismo humano, e por trás, o seu olhar sobre o ser humano é de um interesse maior. Já para o final deste texto intitulado "Da natureza do fanatismo", Amos Oz descreve o ser humano como uma península, com uma parte virada para o mar, para a introspecção e para o eu, e outra ligada à terra, aos outros, aos laços humanos, às pessoas. E que o respeito mútuo por esta condição peninsular era essencial para a manutenção de um equilíbrio. Que era no respeito pelas ideias do outro e na tentativa de consensos e de autocrítica (talvez através do humor) que se mantinha o fanatismo distante de cada um de nós.
Amos Oz também refere de uma forma muito directa o que está na génese do fanatismo:

"Digo que a semente do fanatismo brota ao adoptar-se uma atitude de superioridade moral que impeça a obtenção de consensos." - pp. 17

No nosso feriado mais significativo, onde se comemora a liberdade como um bem maior, no meio de um mundo onde os consensos parecem ser cada vez mais complicados, manter o espírito aberto, lúcido, interrogativo, parece ser urgente. Nessa visão peninsular do eu, procuramos respostas no mar para responder aos problemas da terra e achamos respostas em terra para os problemas do mar. Sempre, com o pensamento e a comunicação a correr num estado livre.

4 comentários:

x disse...

Ora...tens que mo emprestar. Leio de uma vez, no comboio! Garanto.te:)

Unknown disse...

Randomsailor, isto parece-me um pouco discutível, pois parece reduzir o ser humano de uma forma generalizada à condição de "península", apercebendo-se o leitor nas entre-linhas que a raça humana é egoista por natureza. Será que é assim?

Uma península só não é uma ilha porque está ligada ao continente por um pequeno braço de terra.

Na realidade se os introspectivos respeitam o "lado terra" só para a manutenção de um equilíbrio, o consenso alcançado cheira a cinismo.

O ideal para "nós peninsulares" é a conclusão do teu post. Utopia?

Hugzz Consensuais

Randomsailor disse...

X: acho que esse problema 'tá resolvido, certo?

kraak: mmmhhh, talvez não me tenha explicado bem.
disseste: "se os introspectivos respeitam o "lado terra" só para a manutenção de um equilíbrio" Os introspectivos não respeitam o lado terra, para Amos Oz, nós temos um lado terra (os outros, a sociedade) e um lado mar (o eu, a introspecção), ambos os lados são inerentes a nós. E que o meu lado terra tem que respeitar o lado mar das outras pessoas...

Talvez o melhor seja leres o livro... :P

Abraço

P.S: Não é a "raça humana é egoista por natureza", é a "natureza é egoista por natureza". O egoísmo é inerente à vida.

Anónimo disse...

e tá tudo dito. claro k a dose de egoísmo deve ser equilibrada e isso é k é difícil. eu costumo dizer k viver não é mais do k a tentativa de organizar de forma harmoniosa o caos, repara k a natureza é ela mesma caótica.