quinta-feira, outubro 11, 2007

Alcançar a imortalidade na Cidade Universitária

As conjunturas energéticas dos espaços são um assunto a discutir noutro post, mas as empatias que cada um desenvolve com cada local são pessoais, intransmissíveis e verdadeiras. Eu, cada vez que saio na estação do Metro da Cidade Universitária sou tomado por uma fúria de viver racionalista, positivista, humanista e outros "istas" da mesma estirpe... Não consigo evitar nem quero. Gosto do tom claro da estação, gosto do abertura da gare e do hall por cima, gosto do corredor que dá acesso à Aula Magna sempre percorrido por uma corrente de ar que me grita: "Sobe as escadas e vive!". Mas tudo isto seria insignificante se não fossem as duas citações que me acompanham sempre que desço ou saio daquele pedaço de terra:

"Não sou ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo."
Sócrates (470 A.C. - 399 A.C.)

"Se eu não morresse nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!"
Cesário Verde (1855 - 1886)

Fixo-me agora na segunda frase e na notícia que veio no Público de terça-feira relacionado com o Nobel da Medicina intitulado "Um dia vamos conseguir viver até aos 120 anos?". Nesta notícia fala-se de potenciais novas técnicas terapêuticas que poderão permitir-nos esticar a vida mais um pouco. Penso imediatamente no conceito de imortalidade, ideia que me seduz cada vez menos. Mas ao mesmo tempo revejo-me mentalmente a caminhar lado a lado com cada letra da frase de Cesário: "E e t e r n a m e n t e b u s c a s s e e c o n s e g u i s s e a p e r f e i ç ã o d a s c o i s a s!". É um objectivo de vida do tamanho das estrelas em que tenho mais gosto pelo "buscasse" do que pelo "conseguisse", mas é o "eternamente" que me dá o ardor na garganta. A ideia da busca pessoal e eterna pelo "melhor", no contexto universal de Sócrates, põe-me um sorriso na cara qualquer que seja a hora em que atravesso aquela estação.

4 comentários:

Bayushiseni disse...

Para Um Qualquer Irmão Mais Novo

Adorava poder
Subir crescer
Mãos cheias
E calos e beijos.

Ler tudo de tudo
Sem nada perder
E saber e saber
E perceber o saber.

E nunca mais
Nunca mais
Nunca mais
Te abandonar.

Joana Amoêdo disse...

Tenho pena dos preguiçosos emocionais, aqueles que não querem ter trabalho, que não ousam melhorar nada em si mesmos, que pensam ser melhor ser-se como se nasce. Os que dizem "eu sou assim...". Eu creio numa vida bem maior. Com momentos de estagnação como é normal, seguidos daquela sensação inigualável do "eu agora vou por outro caminho, melhor". Sempre fiéis ao que sonhamos.

Anónimo disse...

Tantos e tantos dias da minha vida a ler essas frases. Que inspiradoras que eram... Que saudades de as ler.

Randomsailor disse...

Uma primeira desculpa aos três caríssimos comentadores por esta resposta tardia...

talisca: também gostava de ter um irmão mais novo para lhe cantar um poema tão belo como esse...:) E sim, é tudo isso e respirar, respirar, respirar e respirar.

debbie: infelizmente nem sempre sou fiel ao que sonho, tenho defeitos que me atrasam a vida. Mas não estou derrotado! Isso não!

extravaganza: tantas saudades merecem uma paragem na Cidade Universitária. Os azulejos estão lá, enormes, para serem lidos, para afundarmo-nos (no bom sentido)dentro da tinta de cada palavra.

Um muito bom dia aos três, que seja um daqueles em que se vê coisas novas nos caminhos de sempre! :)