terça-feira, julho 17, 2007

Os outros

Tenho tendência para me deixar hipnotizar por tudo aquilo que me fascina. Às vezes toca na obsessão. Mas tento guardar para mim esses lugares mentais, para não chatear os outros, se calhar sem sucesso. Quem me conhece sabe do que eu sinto por esta série. É só um exemplo, entre muitos. Apesar de gostar que as outras pessoas tenham fascínios comuns, vou tentando libertar-me dessas pequenas angústias... Entretanto, mesclo-me com aquilo que me hipnotiza, sinto, emociono-me, vivo com essas mensagens repetidas que não me canso. Tenho a secreta fantasia de que quanto mais tempo gastar a absorver um objecto, mais pormenores retenho, mais o compreendo e mais me compreendo.

E os outros?

Os outros são muitos. Dividem-se em muitas células. Família, amigos, amigos que são família, amigos mais longínquos, conhecidos, conhecidos com um desejo secreto de passarem a ser amigos, antigos amigos que deixaram do o ser, desconhecidos, família afastada, gente que não queremos ver por perto, gente indiferente, conhecidos de uma só noite, conhecidos com quem se está sempre bem, desconhecidos que já foram incrivelmente próximos, etc, um etc vasto.

E os outros?

Descobri à relativamente pouco tempo que os outros podem tornar-se objecto real e fascinarem-me da mesma forma. Não quero coleccionar outros, acho horrível coleccionar pessoas, as pessoas são livres, são para verem e serem vistas, são para existirem - uma autonomia integrada num mundo. E este fascínio quer transformar-se em afecto mas pode não acontecer, assim como o afecto que tenho por pessoas não significa necessariamente fascínio.
Essas tais pessoas, vejo-as com uma nitidez absurda. São completas em detalhes. São detalhadas. Mostram no rosto, nos gestos, naquilo que vestem, nas ideias que dizem, densidades coloridas, com formas entrecruzadas, que se deformam mutuamente. Vêem e olham e retiram pormenores que usam e transformam, que agregam e projectam. São um imaginário. Andam únicas pelas ruas, constroem-se. Estão vivas. Tornam o que está morto, incandescente, dão um motivo para que o que está morto, exista.

Continuam a ser pessoas, com defeitos e feitios. Mas vê-las e revê-las é sempre um prazer... Com um bocado de sorte mantêm-se assim até ao final da sua vida.

4 comentários:

Anónimo disse...

Este post é assim um bocado para o fascinante, Random... E não, não é só porque fala dessa série :)

Randomsailor disse...

Ena gonn! :) Obrigado... Acho... Nunca tenho a certeza absoluta se estás a gozar ou a falar sério. :)

Fica bem:)

Abraço

Anónimo disse...

Ai é? De qualquer forma, desta vez era a sério :)

Randomsailor disse...

Okis...:)