segunda-feira, outubro 12, 2009

Transparências

Há um mundo de janelas no meu quarto, feito por todos os focos de luz eléctrica que atravessam os vidros da portada e reflectem na parede. Às 4h da manhã, sentado à frente do computador, com a luz apagada, a criatividade extingue-se na dor que tenho na perna direita, no zumbido dos ouvidos, na repetida mistificação do amanhã. O meu raciocínio fica retido na constatação de um estranho paradoxo que envolve espaços fechados. Atravessam-se num instante quando estão sem ninguém, apesar de parecerem amplos e enormes. Quando estão cheios de gente tornam-se minúsculos, mas leva-se uma imensidão de tempo a chegar ao outro lado. Ao mesmo tempo, a solidão fica inalterada à medida que o nosso campo de visão vai se enchendo de pessoas a dançarem, beberem e a trocarem olhares de diferentes amplitudes no espectro das emoções. Minto, a solidão aumenta sempre que somos alvo da atenção e os olhos de alguém pousam em nós durante segundos, enquanto fazem um julgamento clínico para concluir se cumprimos os seus interesses. Normalmente, acabamos por ser um vidro, um espelho, um filtro, e os olhares são desviados, duplicados ou reflectidos em terceiros, ou neles próprios. Servimos de adorno que modela ideias e escapa-lhes que somos substância. Tornamo-nos tão etéreos como o fumo que sai dos cigarros e ajuda a moldar focos de luz já gastos, que reflectem numa bola de espelhos, que acabam esquecidos nas paredes de uma discoteca.

1 comentário:

Bayushiseni disse...

The night goes on and on and on...