Eram exteriores, de incêndio e iam até ao terraço. O motivo nunca era o café ou o tabaco, essas foram sempre as desculpas. A caminhada até ao final do corredor era sedutora, depois abria-se a porta, que por razão nenhuma se deixava fechar e lá estavam: as escadas. Eram impessoais, de metal, frias, um imaginário que acabava ali - no propósito objectivo da sua função, para subir, para descer. Mas naquele patamar onde a subida tinha início havia mais: um balde branco de plástico (um banco excelente), os tabaqueiros a crescerem, beatas por todo o lado, alguém a requerer a privacidade de um telefonema, um fumador ausente, memórias de pessoas, memórias de memórias...
Os três reuniam-se aí: depois do café da manhã, do almoço, à hora do cigarro da tarde, ou nas muitas vezes em que a vontade não deixava esperar pelo encontro horário. Trocavam-se conversas, revelavam-se segredos, forjavam-se planos com a garantia certa que passado cada dia aquele espaço ganhava uma áurea maior de intimidade, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, se aproximava o momento da partida.
Viveram os melhores momentos daquelas escadas no último Verão, durante o café da manhã. A certeza de um dia soalheiro e longo, os momentos de pausa a seguir a uma revelação, a transpiração da juventude que sugere tudo: até a promessa da sensação eterna de se estar vivo.
5 comentários:
e os uivos metálicos do vento a soprar nas escadas...
:)
agora nem as uso..
:)
Por aqui não há escadas de metal. As pausas do dia são passadas sozinho num local que ainda que menos austero e frio não tem o mesmo calor que essas escadas.
Não há café da manhã, não há confidencias nem planos de futuro.
Quem sabe um dia no Futuro ou num qualquer Universo Paralelo não teremos as escadas de volta e com elas o calor do verão.
Quem sabe... :)
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