Não acredito no lagarto do Jim Morrison, é uma farsa. Apesar disso, os anos passam e eu continuo a ser penetrado pela sua música. Aonde quer que esteja, as canções dos The Doors libertam sonhos, despoletam acções. O órgão, a voz, os sobressaltos na melodia, o poder das letras mantêm-me fascinado, absorvido, invadido por uma ambiência etérea. Como se todas as drogas tomadas pelo Morrison tivessem ficado presas nas canções que produziu. Volto a ouvir as músicas e sonho com fogueiras ao relento, vozes dispersas, grãos de areia, a noite, olhos vítreos, relances e deuses perdidos. As canções esbatem-se contra o vento, e soam cada vez mais distantes, cada vez mais entranhadas na terra e no ar. Ao longe vejo um lagarto, a cabeça de um lagarto talvez, o sinal de fogo da insanidade. Não reajo, é mítico e inconsequente. Mas não censuro a sua presença, a música aproximou-o...