sexta-feira, agosto 28, 2009
Já abordei o Eternal Sunshine of the Spotless Mind aqui. Se pudesse, colava esta cena à minha pele e revivia-a centenas de vezes. Servia-me dela como um elemento, como nos servimos do sol, do vento, de uma vista para a cidade ou do mar. Um objecto de contemplação que nos protege...
A cena fica guardada aqui no 5 Years. Já a música cantada pelo Beck, vou pô-la no bolso, formato mp3.
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Rasgaram-me dos ossos um telescópio e observaram o céu, cortaram-me o pescoço e beberam sangue. Surgem-me da derme palavras, correm-me frases do peito até às costas. Vivo como pedra para ser espaço. Sou bancada, púlpito, palco. Existo em texto, mastigam-me em temas, engolem-me em discussões. O meu corpo tornou-se praça para reuniões, consensos, votos, odes. Fui política, ciência, cultura, filosofia, história. Passo de matéria a informação, infiltra-se-me saber, sustenta-me conhecimento em vez de carne. Sou fórum dia e noite, veículo de ideias, lugar dos outros. Convirjo estrelas, enquadro galáxias, incorporo universos.
sábado, agosto 22, 2009
Morro de tempo. Gasto-o porque não me sirvo dele. Não preciso de ter mais vidas para ler todos os livros, visitar todos os países, experimentar todas as profissões. Desprezo quem se preocupa com estes disparates. Quero morrer mirrado aos 70, perder horas a olhar para o futebol, ver televisão, dormir. Quero dormir cinco vezes por dia, comer e fazer palavras cruzadas o resto do tempo. Aposto no desinteresse, no conformismo, em encolher os ombros, ranger os dentes, fungar e repetir-me. Contar sempre a mesma história, só com entoações diferentes para servir a moral do momento. Ver os malucos do riso e dar gargalhadas pequenas, em convulsões. Baixar a mediania quando falo e ainda opinar soluções para qualquer problema. Olhar para as preocupações dos outros com superioridade, ser chico esperto. Morrer com diabetes, ser enterrado num cemitério tétrico com direito a extrema-unção, campa cinzenta e duas datas. Ser esquecido um segundo depois das pessoas saírem do cemitério. Nunca pecar.
sábado, agosto 15, 2009
"I know that you want the candy" ou música para um sábado de Agosto
Dei de caras com a "Canção do Engate" na minha biblioteca musical. Pela primeira vez li a letra com atenção. Gosto do cariz poético e lúcido com que António Variações olha para o acto. Uma certa antítese do próprio título da canção, o que sugere um grau de desconstrução e gozo do autor.
Entretanto, saquei o novo álbum dos Japandroids ao mesmo tempo que ouvia o "Hospice" dos The Antlers. Arcade Fire meets Bon Iver? Gosto.
Como o Verão não acabou, só as minhas férias, seguem-se os The Raveonettes: "Hallucinations", "Lust", "Dead Song" e, claro, "You want the candy".
"In spite of saddened days
I hooked myself on you
But all my troubled ways
Still walked with me boo hoo"
A banda sonora para banhar-me na estação com os olhos fechados.
Entretanto, saquei o novo álbum dos Japandroids ao mesmo tempo que ouvia o "Hospice" dos The Antlers. Arcade Fire meets Bon Iver? Gosto.
Como o Verão não acabou, só as minhas férias, seguem-se os The Raveonettes: "Hallucinations", "Lust", "Dead Song" e, claro, "You want the candy".
"In spite of saddened days
I hooked myself on you
But all my troubled ways
Still walked with me boo hoo"
A banda sonora para banhar-me na estação com os olhos fechados.
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quarta-feira, agosto 12, 2009
segunda-feira, agosto 10, 2009
Lisboa pagã
Lisboa ofereceu-se-me como divindade pagã. Eu aceitei-a há muito. Levo-a no meu olhar, no reflexo oblíquo das estátuas, na introversão dos miradouros, na tijoleira recostada, nas calçadas eternas. Contemplo-a e rezo-a e bebo-a todos os dias. Entrego-me aos seus caprichos sempre que me obriga a contornar uma praça, a parar num semáforo, a desviar-me de gente. Vivo-a como um peão que espera ser surpreendido nas situações, nos reencontros, na amargura, nos primeiros olhares. Sujeito-me aos cuidados das ruas, aos empurrões, rasteiras, sentidos proibidos, vinganças. Não me importo. Alimenta-me a luz infinita que traça todos os momentos, que é metade da cidade, que é metade Lisboa. Foi sob essa luz que me foi oferecido pela primeira vez a tua cara, a arquitectura dos teus traços, o teu sorriso, os teus gestos. Lisboa desvendou-me a tua existência e eu hesitei. Inspirei e deixei-te ir. Deambulo agora pelos passeios, sento-me nos cafés, olho para as pessoas com uma nova esperança. Carrego-a junto com outras vontades, sonhos, desejos que trago comigo. Espero reencontrar-te nas ruas de Lisboa.
Uptown Uptown Uptown
"sometimes you wonder what you're doing with your life
just work/consume/just work/consume'till you die
sometimes it feels the only time you're alive
is when you go out on a saturday night"
E o Incógnito que nunca mais abre...
"and it's so hard
and it's so hard
and it's so hard
to get by in this town
and it's so hard
and it's so hard
and it's so hard
to survive in this town" *
E eu que não me canso desta música...
*"Uptown" dos Primal Scream, versão Calvin Harris
just work/consume/just work/consume'till you die
sometimes it feels the only time you're alive
is when you go out on a saturday night"
E o Incógnito que nunca mais abre...
"and it's so hard
and it's so hard
and it's so hard
to get by in this town
and it's so hard
and it's so hard
and it's so hard
to survive in this town" *
E eu que não me canso desta música...
*"Uptown" dos Primal Scream, versão Calvin Harris
Na estação do Metro do Cais-do-Sodré, é o coelho que me põe a sorrir. O tamanho, o relógio, o “o” que falta na frase “estou atrasad(o)”. Gostava que ele olhasse para mim, levantasse a mão num aceno e desatasse a correr, libertando-se dos azulejos.
Um coelho de contornos azuis, gigante, em velocidade pelos túneis do Metro de Lisboa.
Um coelho, de perna traçada, sentado num banco da estação do Saldanha, olha para o relógio, suspira, desvia os olhos para a linha e pondera: “Espero pelo metro ou arranco corredor abaixo em direcção ao Marquês?”
Um coelho de contornos azuis, gigante, em velocidade pelos túneis do Metro de Lisboa.
Um coelho, de perna traçada, sentado num banco da estação do Saldanha, olha para o relógio, suspira, desvia os olhos para a linha e pondera: “Espero pelo metro ou arranco corredor abaixo em direcção ao Marquês?”
sexta-feira, agosto 07, 2009
quarta-feira, agosto 05, 2009
Abortei-me
Dancei demasiado tempo contigo. Tropecei sempre nos mesmos passos sem querer compreendê-los. Esqueci-me de como se aprendia até que te perdi. Perdi-te. Fartaste-te, gritaste, berraste tanto. Não pelo desespero ou pela cura, mas para que os teus pulmões pudessem voltar a respirar.
Perdi-te e sufoco com a perda. Sufoco pela perda ser merecida, ser passiva, ser cuspo, ser saliva. Transparente, densa, carregada como um forno, opressiva, imobilizadora.
Dancei demasiado tempo contigo. Não aprendi. Perdi-te e recomeçar é tão impensável como ficar sem ti. Recomeçar é tão doloroso como o grito que te saiu da boca. Recomeçar é perder a perda e abandonar o que me resta de ti.
Dancei durante tanto tempo contigo. Gastei todos os gestos. Gastei todos os erros. Tornei-me inviável com a tua ausência. Abortei-me.
Perdi-te e sufoco com a perda. Sufoco pela perda ser merecida, ser passiva, ser cuspo, ser saliva. Transparente, densa, carregada como um forno, opressiva, imobilizadora.
Dancei demasiado tempo contigo. Não aprendi. Perdi-te e recomeçar é tão impensável como ficar sem ti. Recomeçar é tão doloroso como o grito que te saiu da boca. Recomeçar é perder a perda e abandonar o que me resta de ti.
Dancei durante tanto tempo contigo. Gastei todos os gestos. Gastei todos os erros. Tornei-me inviável com a tua ausência. Abortei-me.
segunda-feira, agosto 03, 2009
Segunda-feira sem chuva
Summer on. Summer off. Summer on and off, again.
Agosto mal começou e já traz festas dadas, portas fechadas e finais sem direito a início. A estação é só uma, não estou louco, é só a passagem interna do calendário. Do sol tórrido ao lado da aragem gélida que sopra por baixo da sombra da árvore. Como se quatro estações num só dia fosse outra forma de envelhecer.
E hoje já é segunda-feira. O fim-de-semana acabou.
Agosto mal começou e já traz festas dadas, portas fechadas e finais sem direito a início. A estação é só uma, não estou louco, é só a passagem interna do calendário. Do sol tórrido ao lado da aragem gélida que sopra por baixo da sombra da árvore. Como se quatro estações num só dia fosse outra forma de envelhecer.
E hoje já é segunda-feira. O fim-de-semana acabou.