"...Continuemos aquilo que sempre fomos... pessoas livres... é algo que se tornou bastante raro, a ponto de nos agarrarmos quanto mais não seja à ideia... e eu quero ser livre, até na escolha da minha morte. Tu sabes que considero que só fui útil uma vez durante a minha vida política, no início do século, quando consegui a paz israelo-palestiniana... devias ter tu dez anos e eu tinha acabado de te adoptar... Hoje essa paz está a degradar-se de novo com o obscurantismo crescente, e eu já nada posso fazer... quero deixar o mundo dos homens com leveza e elegância... 36.000 metros de altitude, já imaginaste?... Como uma pena..."*
mais à frente
"-Incomodo-a?...
-Chega em má hora... Estou prestes a perder o meu pai...
-Lamento... Gravemente doente?...
-Não, gravemente feliz."*
O Público tem vindo a publicar semanalmente obras de banda desenhada de vários autores consagrados. Esta quarta-feira foi a vez de Enki Bilal. O livro juntou duas histórias diferentes. A primeira, "A Feira dos Imortais", é o primeiro tomo da trilogia Nikopol, editada durante os anos 80 e inícios de 90. A segunda é mais recente, finais dos anos 90, chama-se "O Sono do Monstro", é o primeiro tomo de quatro que conta a história de três órfãos de Sarajevo. Ambas as histórias acontecem na Terra, num futuro próximo.
O imaginário de Bilal é indissociável dos seus desenhos belos, expressivos, em que a cor é tão importante como o traço e que no todo conseguem sozinhos transmitir ao leitor o ambiente das histórias, que são sempre de um pessimismo brutal quanto ao futuro da civilização mas que vão sendo contadas com um apelo poético irresistível... A edição é boa e barata. Para quem não conhece o autor é uma óptima iniciação.
Página oficial de Bilal aqui.
*Excertos da obra de Enki Bilal - "O Sono do Monstro".
2 comentários:
Este post fez-me ir relembrar uma passagem hilariante d'O Sono do Monstro que reza assim (fui buscar a BD :P)
"
-Estão a ouvir-me em Terra!? É com um médico que quero falar! Um médico!!!
(...)
-Vou explicar-lhe tudo, menina... uma mosca está neste momento ocupada a pôr um milhar de larvas ao longo da coluna vertebral da vítima. Depois atacar-lhe-á o abdómen, a seguir o tórax, e subir-lhe-á ao cérebro. Depois de grande sofrimento, a vítima morrerá em menos de uma hora. As larvas libertar-se-ão dentro de uma semana entretanto, nada se poderá fazer para as destruir. Essas moscas são parcialmente electrónicas, orgânicas, químicas e até mesmo virtuais. Só tem uma coisa a fazer, menina... expulsar esse corpo infectado para o espaço!"
Há outras passagens engraçadas, sobretudo as que se referem a Sarajevo.
Hugzz bósnios
O sono do monstro é das melhores bds que já li! :)
E essas mosquinhas são coisas bem horríveis.
Abraço
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