Dois exemplos:
- Durante a segunda temporada a Brenda tem dois comportamentos paralelos que são a antítese um do outro. Por um lado vai alimentando e fazendo o papel de namorada do Nate, faz a festa de noivado, encaixa da melhor forma possível a notícia de que o Nate vai ter um filho de outra. Todo o comportamento normal, socialmente aceite e correcto de uma pessoa madura. Ao mesmo tempo, vai tendo relações casuais com outros homens a título de experiência quase científica, mas que põem em causa o relacionamento com o Nate e são um reflexo inconsciente da sua incapacidade e medo de assumir uma relação para a vida. No final da temporada a situação explode, numa discussão brutal entre os dois.
- Outro exemplo é o caso do David em que num episódio da quarta temporada é raptado e passa por uma experiência traumática que o deixa literalmente às portas da morte. Essa experiência tem um impacto directo durante o resto da temporada, mas vai sendo tratada e posta de lado. No entanto, depois da morte do irmão, já no final da quinta temporada, o problema reacende-se e o David volta a ter pesadelos com o seu agressor até se aperceber que o que está em jogo é a incapacidade de aceitar a sua morte, que ficou mais próxima depois do que aconteceu ao irmão.
Durante as cinco temporadas dos Sete Palmos, podemos verificar este comportamento em harmónica de todas as personagens. Em que os acontecimentos parecem ser encaixados por cada um, mas que mais tarde revelam-se nos momentos menos óbvios em acções que vão custar caro e que para serem realmente superadas exigem tempo e um esforço épico.
É precisamente este mecanismo que torna as personagens complexas e faz com que a série seja tão boa. Porque a forma como os defeitos e a personalidade de cada um são trabalhados está muito perto da realidade. As nossas acções e comportamentos, os nossos vícios, todos os pequenos detalhes que nos constroem são fruto de centenas de acontecimentos que muitas vezes não nos apercebemos nem questionamos e que se reflectem em ciclos comportamentais, em falhas, em momentos e acções que não conseguimos explicar. O título deste post remete para esta ideia. “The rainbow of her reasons” dá o nome a um dos episódios mais bonitos da última temporada e é uma imagem mental clarificadora do que escrevi acima. A razão da razão é vasta e cobre-nos. É por isso que se leva uma vida inteira a tentar compreender os outros e a nós próprios.
8 comentários:
Eu tenho uma panca pelo Nate. Completamente.
O Nate tem um historial de deixar mulheres infelizes...:P
Mas eu não quero nada com ele, Sailor:-). É diferença entre mim e as mulheres que ele deixou infelizes.
Fico mais descansado, então... Loll!
Eu não tenho uma panca pelo Nate (aliás, detestei-o na última temporada) mas subscrevo o post, é muito raro ver personagens evoluirem dessa forma, mesmo que não faltem boas séries por aí.
gonn: Não acho que o nate da última temporada seja diferente do da primeira... a evolução é orgânica, e ele morreu na ilusão de ter encontrado the real thing.
E sim, a forma como as personagens são trabalhadas é única! :)
abraço!
excelente post que me fez ter imensas saudades desta serie. sempre gostei da sensação de desgraça e absolvição que pairava em cima de cada personagem e da ideia que de facto cada gesto, acção, palavra nos molda e nos leva a algum sitio diferente daquele onde estavamos antes. e nenhuma das personagens desta série é feita de cartão. são vivos, são organicos, são "reais". o que é engraçado de analisar visto ser tão fácil dizer que é uma série sobre a morte quando talvez seja realmente sobre a vida.
ovs: sim, é sem dúvida uma série sobre a vida (e sobre viver) perspectivada sob o contexto limitador da morte. Quanto à desgraça e absolvição que paira sobre as personagens, é verdade, mas numa perspectiva muito pouco divina. Em que se sofre essa desgraça e absolvição durante a vida, que é quando realmente importa...
abraço! :)
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